Herald Estate – TCP

A NOSSA CARRINHA TRIUMPH HERALD ESTATE

Falar da carrinha Herald, é como contar um conto. Um conto de amor e amizade em que a protagonista é uma velha senhora Lady Herald e um grupo de amigos que com muito carinho e trabalho transformaram a velha senhora numa rainha.
A História da nossa Herald 1200 Estate começa no longínquo ano de 1966 em Angola, onde percorreu os seus primeiros quilómetros pela mão do primeiro proprietário, o Sr. Lídio Nóbrega Nunes Pereira, com a matrícula ARS-08-84, de 3 de Junho de 1966.

Por Angola permaneceu até 1974, ano em que foi transportada para Portugal, devido ao seu proprietário ter mudado a sua residência para Lisboa.

Foi-lhe atribuída matrícula portuguesa ( IT-37-22) em 7 de Dezembro de 1976, tendo continuado a ser o veículo de uso diário do Sr. Lídio durante mais 20 anos; em 1996, a nossa querida Herald foi roubada e vandalizada, tendo ficado bastante danificada na carroçaria e chassis. Nessa altura foi descoberta por um dos fundadores do Triumph Club de Portugal, António Osório. O clube ainda não estava constituído e nesse tempo não era mais que um sonho de um grupo de amigos que orgulhosamente se juntavam para passear os seus carrinhos. Mas a sua formação já estava encaminhada e como uma das missões deste embrionário clube era o de recuperar, manter e preservar os carros da marca, depressa os 6 elementos do núcleo fundador do clube (Cabral Afonso, José Feio, Dias Filipe, Diamantino Turbulento, António Osório e Edgar Albuquerque) uniram esforços e efectuaram a compra da coitada para, futuramente, a doarem ao clube.

A compra foi efectuada em Julho de 1996 pela módica quantia de 80.000$00 (ca de 400 € ).

Só em 1998, já pela mão do recém formado Triumph Club de Portugal, o restauro teve inicio.

Entre Outubro de 1998 e Janeiro de 1999, ela foi para a oficina de um associado, mecânico (antigo chefe de oficina da Triumph em Portugal), de seu nome Francisco Nobre. Ele ofereceu a mão de obra do restauro da parte mecânica E aqui foram recuperados os travões e embraiagem, além de ter sido feita a afinação do motor e alguns pequenos acertos gerais. Tendo saído daqui pelo seu próprio pé, que é como quem diz, rodando.

Em seguida foi feito o levantamento e aquisição da maior parte das peças necessárias ao restauro de carroçaria. E em Março de 2000 a carrinha entrou na oficina de Filipe Martins & Irmão para o restauro de chapa e pintura.
O restauro de chapa decorreu durante mais de um ano e meio, tendo sido removida a ferrugem e fibra de vidro existente e efectuada a substituição e/ou reprodução dos painéis de chapa necessários.

Em Setembro de 2001 foi efectuada a pintura em estufa, no branco original com que tinha saído da fábrica em 1966.
De lembrar que sendo o clube recente e vivendo com o dinheiro de quotização dos sócios e de algumas doações a favor do restauro da carrinha, os trabalhos desenvolviam-se á medida que ia havendo dinheiro. No entretanto o clube foi crescendo e melhores dias vieram, passou a ter um pequeno espaço próprio, composto por escritório e uma pequena garagem, onde os sócios se reuniam e podiam fazer pequenas reparações nos seus carros.

Em Novembro de 2001, a nossa menina já toda branquinha veio repousar na sede do clube. Pela frente estaria uma enorme operação plástica, que é como quem diz a continuação do restauro, agora para aperfeiçoamento de interiores e compartimento de motor, que só foi possível pela forte motivação da actual direcção (constituída por Dias Filipe, Carlos Camacho e Rogério Mendes) e do empenhamento de todos os sócios.

Aqui começou um verdadeiro trabalho de pesquisa e, sendo a carrinha um carro raro e único em Portugal, de imaginação e engenho.

Comecemos pela estrutura do tablier, uma real desgraça. Foi um verdadeiro desafio. Totalmente desmantelado e restituído á sua forma original com fibra de vidro. Foi posteriormente revestido com vinyl. Para a parte de madeira foram gastas muitas lixas e algum suor, não descurando uma atenção especial para as folgas e, quando o acabamento de poliuretano foi aplicado, o resultado final não podia ser melhor.

O interior da carroçaria foi totalmente revestido a feltro de insonorização. Até o tecto e o tunel da caixa de mudanças. Agora roda muito mais silenciosa e os pés do condutor menos quentes (os ingleses podem achar que é vantajoso mas, em países quentes pode tornar-se desagradável). Tentem compreender que todos estes trabalhos foram feitos por amadores. O acabamento do tecto de uma carrinha pode-se tornar complicado porque é enoooooorme.

A bagageira e o banco traseiro articulável estavam uma miséria e não foi fácil perceber como tudo se conjugava de modo a funcionar na perfeição. Pegar em todas as pequenas peças e colocar tudo no sitio e a funcionar foi um verdadeiro quebra cabeças, dificultado ainda mais pela falta de algumas dessas peças. O revestimento, que originalmente era de cartão, há muito desaparecido foi efectuado em madeira de mogno e acabado com verniz brilhante (idêntica ao tablier). Posso dizer que ficou um verdadeiro mimo.

Os interiores com uma alcatifa de cor vermelha a condizer com o revestimento dos bancos e portas, na cor original de Matador Red, para compor uns cintos de segurança vermelhos e ficou lindaaaaaaaa.

Depois veio o trabalho pesado.

As suspensões traseiras e dianteiras foram totalmente reconstruídas, foi um trabalho difícil com muitos materiais soldados pelo tempo, que tornavam a progressão morosa.

A carrinha foi apresentada aos sócios com toda a pompa e circunstância que a ocasião merecia em Dezembro de 2002. E foi com muita emoção que retiramos o pano que a cobria. Vê-la assim brilhante e resplandecente, tão diferente, tão bonita, encheu de brilho os olhos dos associados presentes. Mais do que um restauro foi um trabalho de paixão, dedicação, amizade e espírito de grupo. Por isso aquele carro outrora abandonado conquistou um lugar no nosso coração, porque representa os ideais que nos movem e é um exemplo de como em grupo se conseguem fazer coisas fantásticas. É sem duvida um exemplo a seguir. Penso que o resultado deste sucesso foi o exemplo e a motivação que originou nos associados. Com o tempo constatámos que a qualidade dos carros dos associados do clube tem vindo a melhorar.

Resta dizer que a carrinha foi exposta em Outubro de 2003, na 1ª Autoclássicos- Porto, evento que moveu 30.000 pessoas. Foi realizado um concurso surpresa, em que cada stand (profissional ou não) apresentava um único carro. Movidos pelo brio inscrevemo-nos, sem grandes expectativas, que a concorrência era muita e muito boa. Uma carrinha Herald a concorrer com Jaguars, Rolls Royce e afins não nos deixava sonhar muito alto, já para não falar de que era um restauro feito por amadores, face a restauros dos melhores profissionais de Portugal. Mas …

SURPRESA

O 1º prémio vai para, isso mesmo, a nossa carrinha ganhou o 1º prémio de restauro e elegância.
Com este prémio a nossa menina roda agora muito mais feliz, no seu dia a dia, cumprindo na perfeição o seu papel de carro oficial do TCP. Após algumas centenas de quilómetros os sinais da idade revelaram-se através de alguns ruídos estranhos provenientes do motor e transmissão. De volta á sede e ao trabalho pesado, foi a altura de lhe abrir o “coração” e fazer um restauro profundo do motor e transmissão. Aproveitou-se a oportunidade para instalar uma caixa de mudanças com overdrive (da época) ficando assim mais adaptada a deslocações longas.

Em Junho de 2004 viajamos até Stafford – Inglaterra, ao maior encontro internacional de Triumphs. Saímos 10 carros, entre os quais a carrinha Herald, do nosso belo Portugal e aventurámo-nos por terras de Sua Magestade. Para marcarmos a nossa presença no evento, resolvemos todos inscrever os nossos carros nas provas de elegância e restauro. Foi bonito de se ver os carrinhos todos enfileirados, brilhantes que só visto (foram lavados com baldinhos de água e muito esforço de todos). Quanto a prémios, só sonho porque o evento era exigente, e os nossos tinham uns kms a mais para os zero km do concurso. Mas as surpresas não tinham acabado e assim, coisa nunca vista, ganhámos 3 prémios. 1 e 2 º Prémio de Melhor Spitfire e ….

1º Prémio de melhor Herald para a nossa menina.

Estes prémios atravessaram o canal da Mancha pela 1ª vez. Foi um facto único que, de certo modo veio selar com chave de ouro esta odisseia de amizade e dedicação pelo amor dos carros.

Ana Paula Filipe

Com a colaboração técnica de Dias Filipe

In – http://www.autoclassic.com.br/